Mais um “cisne negro” abriu as suas asas sobre a humanidade, afetando e infetando, tudo e todos. Mais um acontecimento, súbito e inesperado, a gerar brutais consequências negativas nas pessoas, nas empresas, na economia e na sociedade em geral. Embora, com o seu epicentro numa região da China, o certo é que esta pandemia designada por Covid-19, alastra por todo o mundo como fogo em palha seca, não distinguindo género, raça, idade, nacionalidade ou posição social.
Em pouco mais de três meses, e quanto ao seu impacto na economia e no consumo, os seus efeitos já se consideram devastadores. Pelo lado da oferta assistimos, em quase todos os países, ao encerramento e/ou quebra de produção nas fábricas, à redução da oferta e paralisação de muitas cadeias de abastecimento, à quebra nas exportações e importações e, muito provavelmente, a um aumento generalizado dos preços. Por sua vez, pelo lado da procura, assistimos a uma perceção de medo, ou mesmo pânico, por parte dos consumidores, a reduções nos rendimentos das famílias, a fortes quebras em áreas de atividade importantes como o turismo, a cortes no investimento e mesmo possíveis falências de muitas micro e pequenas empresas, às quedas das bolsas e, naturalmente, a fortes contrações no consumo com exceção dos produtos de primeira necessidade, nos quais e por força das circunstâncias e da falta de confiança das populações, se assiste a situações de procura excessiva e até açambarcamento.
Na verdade, um dos efeitos perversos desta crise de saúde pública, verifica-se no aumento das vendas das empresas retalhistas de produtos alimentares, quer quer e das empresas retalhistas farmacêuticas e de produtos de saúde, por naturais e óbvias razões.
As incríveis situações a que temos assistido, de corrida aos supermercados, de roturas nos lineares e açambarcamento de certos produtos, são totalmente despropositadas, absurdas e desnecessárias, pois não está em causa a falta de abastecimento de quaisquer produtos alimentares ou não alimentares.
As empresas de distribuição trabalham hoje com cadeias de reaprovisionamento inteligentes que reportam automática e diariamente os produtos em falta pelo que, se e quando existam ruturas de estas serão apenas momentâneas e circunscritas a alguns produtos. Infelizmente, o problema é outro e de maior gravidade, uma vez que esta luta, que hoje travamos não é pelo nosso consumo, mas sim pela nossa vida e contra a nossa morte.
No nosso país e como forma de prevenção, por determinação do Ministério da Economia e da Transição Digital e do Ministério da Agricultura, foi criado um Grupo de acompanhamento e avaliação da evolução da cadeia de abastecimento nos sectores agroalimentar e do retalho, que terá como objetivo antecipar situações de perturbação no abastecimento regular ou comportamentos individuais desproporcionados, face às necessidades efetivas dos cidadãos, e delinear, em caso de necessidade, medidas preventivas ou corretivas para manter as normais condições de abastecimento.
Aliás, as empresas retalhistas e os centros comerciais já estão a condicionar o acesso dos clientes aos seus espaços e algumas, até estão já, a anunciar o encerramento de algumas das suas lojas por tempo indeterminado. Esperemos que as pessoas sejam responsáveis, individual e coletivamente, durante todo o tempo que durar esta crise, de modo a podermos superá-la, com as menores baixas e danos económicos possíveis, para cidadãos e países.
E, como em tudo na vida, também nas atuais circunstâncias, deveremos todos nós esperar o melhor, mas… estarmos preparados para o pior. E, que assim seja.
José António Rousseau é consultor e investigador da UNIDCOM/IADE/IPAM