Cerca de um milhão de pessoas em Portugal já trocaram a alimentação tradicional por um regime alimentar que não inclui proteína animal. Os dados são do Centro Vegetariano que, através da AC Nielsen, empresa de estudos de mercado na área da alimentação e consumo, apurou que o número de adeptos quadruplicou na última década e que mantém uma tendência de crescimento. Num país em que a dieta mediterrânica domina — inclui peixe, carne, ovos, leite e derivados —, a predisposição para reduzir o consumo de carne (50,6%) e para adotar uma alimentação de base vegetal (45,1%) parece atrair praticamente metade dos participantes no Grande Inquérito da Sustentabilidade em Portugal, realizado pelo Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa. Mas será uma tendência que veio para ficar, ou apenas uma moda passageira? De acordo com o estudo “The Green Revolution”, da Lantern, uma consultora especializada na área da alimentação, o crescimento verificado nos últimos anos, especialmente entre 2020 e 2021 — em muitos casos fruto de decisões tomadas durante os confinamentos provocados pela covid —, demonstra que este movimento veio para ficar.
Mas, apesar dos dados, as opiniões continuam a dividir-se. José António Boccherini Bogert, que falava esta semana sobre o tema no Seminário Agroalimentar Portugal, que decorreu em Santarém, colocou a questão à plateia de empresários do sector, a propósito do estudo que apresentou da empresa Zyrcular Foods, especializada na alimentação do futuro. Entre as dezenas de participantes, a maioria mostrou dúvidas relativamente à consistência desta tendência, mesmo perante os números revelados pelo professor da San Telmo Business School. Segundo Boccherini, as previsões apontam para que o pico de consumo de carne seja atingido em 2025, com uma tendência de decréscimo a partir dessa data, mesmo em países como Portugal e Espanha, tradicionalmente adeptos desta proteína. Em 2019, no país vizinho, já 9,9% de consumidores eram vegan. Uma percentagem muito semelhante ao apurado pelo estudo da Lantern em Portugal.
Esta alteração nos hábitos alimentares resulta de fatores relacionados com a saúde e o bem-estar, mas também pela crescente preocupação — em especial das gerações mais jovens — com a […]