Angola e Moçambique estão no grupo de países que estão a lutar contra o impacto da seca severa que afetou mais de 30 milhões de pessoas na África Austral, anunciou hoje uma agência da ONU.
“Angola, Malaui, Moçambique, Namíbia, África do Sul e Zimbabué estão a braços com o impacto da seca, de acordo com o comunicado do Programa Alimentar Mundial (PAM), e quatro países da região – Namíbia, Malaui, Zâmbia e Zimbabué – “declararam estado de emergência devido ao contexto climático”.
A agência das Nações Unidas (ONU) está, com parceiros, incluindo organizações não-governamentais (ONG) e humanitárias e de desenvolvimento, a apoiar os esforços de resposta nacionais e regionais e foi hoje feito um apelo durante uma sessão de informação sobre a emergência na África Austral, em Pretória, na África do Sul, para realçar os graves impactos do El Niño e a crise provocada pelas alterações climáticas.
“Mais de 30 milhões de pessoas em toda a África Austral foram afetadas por uma grave seca. Milhões de pessoas podem ser empurradas para a fome aguda, a menos que o apoio seja urgentemente mobilizado em grande escala antes da próxima estação seca”, referiu o PAM no comunicado.
O fenómeno El Niño, que começou globalmente em julho de 2023, conduziu a um grave défice de precipitação em toda a região da África Austral, com temperaturas cinco graus acima da média, indicou o PAM.
“A região registou o mês de fevereiro mais seco dos últimos 100 anos, recebendo 20% da precipitação habitual esperada para este período”, que coincidia exatamente com a “altura crucial para o crescimento das culturas”, onde 70% das pessoas dependem da agricultura de sequeiro para sobreviver, alertou.
“A situação de emergência está a acrescentar mais sofrimento às vulnerabilidades existentes. Mesmo antes da seca, os níveis de insegurança alimentar e de necessidade humanitária eram elevados, devido aos desafios socioeconómicos, aos preços dos alimentos e aos impactos agravados da crise climática”, lamentou.
Para o PAM, a crise climática prejudica ainda mais as crianças porque, com a perda de meios de subsistência e os encargos adicionais para as famílias, correm o risco de sofrer abusos, deslocações, fome e doenças como a cólera.
“As secas e as inundações também têm um efeito em cadeia no acesso à educação, deixando as crianças vulneráveis ao trabalho infantil e ao casamento infantil”, frisou.
De acordo com a diretora regional adjunta do PAM na África Austral, Adeyinka Badejo, “o El Niño pode estar a terminar, mas os seus impactos estão longe de ter terminado”.
Por isso, “estão em curso avaliações para se perceber o impacto da seca na produção agrícola e foram desencadeadas ações de antecipação para prestar assistência imediata às comunidades vulneráveis”, declarou o coordenador sub-regional na África Austral da Organização da ONU para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Patrice Talla, citado no comunicado.
Com um défice previsto na produção agrícola, especialmente de milho, os rendimentos agrícolas irão diminuir, explicou Talla.
“Além disso, o aumento dos preços dos alimentos deixará os agricultores com menos dinheiro para investir em sementes, fertilizantes e equipamento, todos eles cruciais para manter e aumentar os níveis de produção no futuro”, concluiu.