Em 25 anos, tornou a região do vinho verde, no Alto Minho, uma referência nos brancos portugueses. O enólogo Anselmo Mendes dedicou-se à casta alvarinho, produzindo vinhos premiados dentro e fora de portas. Diz que o maior problema do vinho não são os sulfitos, mas sim o álcool, “a molécula mais tóxica que o vinho tem e por isso deve ser bebido com moderação”. Escutemo-lo
Curiosidade. É esta a energia que move Anselmo Mendes, enólogo de 60 anos natural de Longos Vales, Monção, no Alto Minho. Um território a que está ligado desde cedo, onde planta vinha e colhe a uva que transforma em vinho. Seguimos pela grande vinha da Quinta da Torre, caminhando ora sobre a terra batida, ora sobre a vegetação que cresce entre os corredores verdes de alvarinho. Está calor, humidade, seguimos sob o sol que amadurece os cachos – a vindima será no início de setembro, provavelmente. Caminhamos largos minutos até chegar ao rio, que refresca o dia e as vinhas, e que torna agora a região que Anselmo descobriu apetecível a grandes companhias, portuguesas e espanholas.
Já lá vamos. Para já imaginemos um Anselmo com 7 ou 8 anos com uma régua a medir as plantas que encontrava no caminho entre a casa dos avós e da dos pais. Um miúdo curioso, que ali via a natureza a crescer, demorando-se demasiado no carreiro, o que levou a avó a passar a pôr um bilhetinho com a hora de partida no saco que levava para entregar à mãe. Foi assim que os adultos perceberam que levava cinco horas a percorrer três quilómetros. Neto e filho de agricultores, sempre com forte ligação à natureza, seguiria para Agronomia, em Lisboa. Há 25 anos que faz vinho, dedicando-se principalmente à casta alvarinho, esta que nos abraça no passeio.
No início da carreira, trabalhou na Borges, uma grande empresa do Douro, mas que lhe permitiu desenvolver outros projetos. Começou a dar apoio a pequenas quintas na zona de Monção e Melgaço e a investigar a casta alvarinho. “Na verdade, a minha vida foi sempre experimentar. Fui o primeiro a fazer fermentação em madeira, a seguir curtimenta, que hoje está na moda, mas na altura não estava. Fiz um vinho em 2001, fermentei as cascas, fermentei o engaço, não vendi nada, as pessoas reagiram muito mal a esse vinho. Mas depois, por teimosia, reeditei-o em 2015”. Atualmente o Tempo é vinho mais caro da casa, ronda os €90 a garrafa. […]