Os incêndios visitam-nos em curvas também elas com picos pronunciados. Acontece que, neste caso, vaga após vaga, teimamos em enfrentar o pico de frente. Resultado? O colapso do sistema.
Quero eu e a Natureza | que a Natureza sou eu | e as forças da Natureza | nunca ninguém as venceu (António Gedeão, 1958)
Chega o calor, chega o triste fado dos incêndios. Ainda não nos vimos livres de um desafio, a pandemia, e já temos outro em mãos. A natureza não nos dá descanso.
O paralelismo entre estes dois flagelos, para além da coincidência no tempo, é interessante. Com efeito, ambos são elementos da natureza e que ciclicamente afligem as sociedades humanas. Somos aliás nós, que vivemos no mundo deles. Uma molécula de RNA? Uma combustão de matéria orgânica? Não os conhecemos de qualquer outro “canto” do Universo. Estaremos sós? Não sabemos. Mas sabemos da enorme capacidade da Natureza se imitar, se copiar, se repetir quando encontra vias de sucesso: se a gineta tem pintas, o leopardo também; se o pombo tem asas, também o morcego, ou a abelha, ou até o pinhão; se o Sol tem um núcleo, também a Terra, ou as nossas células…
Por estes tempos, vamo-nos habituando a noções de epidemiologia: as curvas, os picos, as vagas, a propagação e o que podemos fazer para não naufragar. A estratégia adotada, tanto cá como na generalidade dos países, foi: temos que “achatar a curva”. De discursos oficiais às redes sociais, passando pela comunicação social, de políticos a matemáticos, jornalistas ou médicos, não faltaram explicações: temos que abrandar a propagação, prolongando-a no tempo, mas evitando uma sobrecarga que leve à rutura dos serviços.
O que tem o fogo a ver com isto? A repetição de um padrão natural.
Igualmente os incêndios nos visitam em vagas sucessivas, em curvas também elas com picos pronunciados. Acontece que, neste caso, vaga após vaga, após vaga, teimamos em enfrentar o pico de frente. O resultado?