São muitos os produtores que estão fora das denominações de origem
Quando observamos as garrafas de vinho, podemos verificar que no contrarrótulo aparece o selo emitido pela Comissão Vitivinícola da região onde o vinho foi produzido. Esse selo pode ser de dois tipos, ou modelos: o selo que corresponde à Denominação de Origem Controlada (DOC). Pode aparecer apenas com a indicação D.O. seguida do nome da região; por exemplo D.O. Alentejo ou unicamente Alentejo. E quem diz Alentejo, diz Douro, Bairrada ou outra qualquer região demarcada. O outro selo que podemos encontrar corresponde à indicação Vinho Regional, que pode ser, por exemplo, Regional Minho (nos Vinhos Verdes) ou Regional Duriense, no caso do Douro. Para complicar um bocadinho, atualmente, e cada vez mais, surge a nova nomenclatura com a designação IG (Indicação Geográfica) em vez de Vinho Regional. Para confusão não está mal. Sobre o assunto já muito se escreveu, mas a verdade é que as regras não se aplicam da mesma maneira em todo o país. Repare-se: qualquer vinho produzido no Douro e que cumpra as regras da D.O. pode trazer a indicação Douro; o mesmo no Dão ou noutra região. Já no Alentejo não é assim porque só as sub-regiões reconhecidas podem usar a denominação Alentejo, tudo o resto tem de ser Regional. Assunto a resolver.
Em qualquer região, um produtor pode optar por classificar o seu vinho como Regional e não como D.O., porque não cumpre exatamente as regras impostas, nomeadamente no que se refere às castas exigidas e aos tempos de estágio, ou pode, o que é mais radical, mas que corresponde a um movimento em crescendo, optar por não ter classificação alguma. Esses são os chamados Vinhos IVV (porque apenas levam o selo do Instituto da Vinha e do Vinho), não estão sujeitos a nenhuma Câmara de Provadores e podem ser feitos como muito bem aprouver ao produtor. Em boa verdade, um vinho não é bom por ter selo de D.O. nem mau por não ter. A produção de espumantes em Portugal é exemplo disso: é muito maior a quantidade de vinhos que tem apenas selo IVV dos que os outros que têm D.O.; o caso paradigmático é a Raposeira que não certifica nenhuma das 2,5 milhões de garrafas que produz porque os vinhos usam lotes de uvas do Douro com outras de Távora-Varosa e essa mistura é incompatível com as regras da D.O., e os vinhos levam, assim, selo IVV. Também na Bairrada — a maior região produtora de espumante —, mais de metade dos vinhos ali produzidos apenas têm selo IVV. Ao consumidor resta-lhe, no ato da compra, ter confiança no produtor, conhecer a marca, o rótulo ou ter ouvido falar bem do vinho. O selo IVV também serve às mil maravilhas todos aqueles que não gostam das Câmaras de Provadores porque lhes chumbam os vinhos, e os que querem fazer vinhos que apelidam de alternativos e que, em muitos casos, não passam nem na Câmara de Provadores nem no nariz de um provador ajuizado e com bom gosto, ou porque têm defeitos (e há mesmo quem procure vinhos com defeito, por incrível que isso possa parecer…) ou porque estão desequilibrados, têm uma longevidade muito limitada e porque não expressam nada, nem a casta, nem a região, nem o solo, nem o clima; são muitas vezes vinhos sem alma, apesar dos seus autores se reclamarem do “respeito pelo terroir”. Como se imagina, conseguir pôr um vinho destes no mercado apenas com selo IVV é, para estes produtores, uma bênção. Assim o consumidor vá na conversa. […]